A natureza do amor

domingo, 27 de março de 2016

Em 1968 o psicólogo americano Harry Harlow (31 outubro, 1905 – 6 Dezembro, 1981) abriu caminho para a investigação laboratorial de um tema que até então permeava a poesia e a filosofia. Harlow (1968) se interessou por investigar a natureza do amor. Seu trabalho foi pioneiro ao utilizar o modelo animal para investigar as consequências do stress neonatal sobre o desenvolvimento. Trabalhos subsequentes com um modelo semelhante ajudaram no desenvolvimento de terapias farmacêuticas para a ansiedade, fobias, desordens de stress pós-traumático e transtornos de humor. De igual forma, lançaram luz sobre a relação intrínseca entre adversidades no inicio da vida e a pré-disposição pera psicopatologias.   






Fonte:http://www.famouspsychologists.org/harry-harlow/


É interessante notar que só recentemente essas investigações se aproximaram do objetivo inicial de Harlow (1968), que era entender a natureza do amor. É importante pontuar que os seres humanos não são os únicos em formar laços sociais intensos e duradouros. O vínculo de uma mãe para com seu bebê, ou a ligação emocional entre um macaco fêmea e seu filhote, é qualitativamente comparável no que se refere ao amor/vínculo materno. Essas relações compartilham mecanismos cerebrais evolutivamente conservados. Há uma sobreposição interessante entre as áreas do cérebro envolvidas com o amor/vínculo tanto em humanos quanto em outros animais. Também existe um padrão molecular semelhante. A oxitocina, por exemplo, está relacionada com o vínculo mãe-prole tanto em humanos como em outras especies.

Não apenas com o vínculo mãe-prole, durante o acasalamento, a ratazana de pradaria é estimulada por oxitocina liberada no cérebro. Uma ratazana fêmea rapidamente se apega ao macho mais próximo, se seu cérebro for infundido com oxitocina. O hormônio interage com o sistema de reforço e recompensa impulsionado pelo neurotransmissor dopamina. Outras evidencias indicam que regiões do sistema de recompensa no cérebro humano, são ativadas em mães ao visualizarem imagens de seu filho. Padrões de ativação semelhantes são observados em pessoas ao verem fotografias de seus amantes. Isso leva a hipótese de que a ligação de amor em seres humanos possa ter evoluído através de um ajuste dos mecanismos cerebrais relacionados a ligação materna. Em confluência com estas observações, foi descrito que a estimulação do colo do útero e mamilos durante a intimidade sexual são potentes liberadores de oxitocina no cérebro, sendo este, um mecanismo para fortalecer o laço emocional entre os parceiros. Em síntese, os sistemas mediadores do vínculo materno são também elementares nas relações afetivas.

  


Fonte imagem: http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/oxitocina-a-molecula-da-moral



Quando em 1968, Harlow se dedicou a estudar os efeitos da privação maternal neonatal em macacos, Sigmund Freud, o criador da teoria psicanalítica, já havia inferido ser a mãe o primeiro objeto de amor da criança, e que a qualidade desta relação, seria a base para relações futuras. No entanto, não podemos deixar de considerar que o seculo XX foi marcado pela não cooperação entre ciências humanas e naturais, o que tem mudado

Os estudos atuais nos permite entender que um ambiente materno acolhedor durante a infância contribui de forma global para desenvolvimento da criança. As primeiras experiências de vida influem não apenas na psique, como já se discutiu, mas atuam na maturação cerebral e influem nos mecanismos de regulação genica. Isso significa que a citoarquitetura cerebral e o refinamento sinápico sofrem influencias das experiencias iniciais.

Em resumo, é importante entender que as primeiras experiencias afetivas podem modular a expressão de genes, como os decodificadores de neurotransmissores... entre estes o receptor de exitocina, em diversas regiões do cérebro, com efeitos para as interações sociais na vida adulta. Por exemplo, estudos demonstram que ratas que foram cuidadas por boas mães possuem uma concentração maior de receptores de oxitocina e cuidam melhor de seus filhotes, quando se tornam mães. Já ratas que são cuidadas por más mães tendem a não cuidar bem de seus filhotes, demonstram níveis mais elevados de stress e os filhotes tendem a repetir estes comportamentos quando adultos. 

A figura abaixo mostra regiões que contêm uma elevada densidade de receptores para a oxitocina (e vasopressina) e sua sobreposição com a atividade relacionada com o amor materno e romântico. Todas as regiões marcadas contêm uma elevada densidade destes neuro-hormônios relacionada apego humano.




Abbreviations: C = caudate nucleus; GP = globus pallidus; hi = hippocampus; hTh = hypothalamus; P = putamen; PAG = periaqueductal (central) gray; M = nucleus of Meynert; rf = retrorubal fields/intralaminar/subthalamic nuclei; SN = substantia nigra; Tha = lateral thalamus; VTA = ventral tegmental area. For illustration, the extent of activity is shown at thresholds of P < 0.05, uncorrected. Sections have the same orientation as in previous figures. (a): sagittal, (b,c): coronal, (d): transverse.






Referência:

Bartels, Andreas, and Semir Zeki. "The neural correlates of maternal and romantic love." Neuroimage 21.3 (2004): 1155-1166.








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